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Por que Ensinar Estatística e Probabilidade na Infância

Por que estatística e probabilidade deveriam ser ensinadas desde os primeiros anos escolares

Lembro-me de quando me matriculei na disciplina de Probabilidade e Estatística na faculdade e me questionei sobre a utilidade daquele conteúdo no curso de Ciência da Computação. O ano era 1997, não tínhamos acesso fácil à internet, e o sistema de ensino ao qual tive acesso nos empurrava goela abaixo as fórmulas referentes a combinação, permuta e arranjos, tudo isso no ensino médio.

Não preciso dizer que a aplicabilidade em casos do cotidiano estava limitada ao lançamento de moedas, dados ou retirada de bolas coloridas de caixas. Esse tipo de aplicabilidade, para adolescentes do ensino médio, não parece fazer sentido, assim como quase todos os assuntos de matemática. É um ponto de discussão relevante: como ensinar aos alunos certos assuntos abstratos de forma que haja uma relação com situações do mundo real e eles consigam entender a sua aplicação?

Estudos de neurociência afirmam que o córtex pré-frontal, responsável pelo raciocínio abstrato (além de outras funcionalidades), inicia seu desenvolvimento por volta dos 12 anos de idade. Isso significa que, antes dessa idade, as crianças não conseguem entender conceitos abstratos, que não podem ser vistos, ouvidos ou tocados.

Após os 12 anos, a escola inicia a introdução de conceitos que trabalham esse tipo de cognição, como funções e conjuntos numéricos. O desenvolvimento dessa área do cérebro não acontece de uma hora para outra, mas se configura em um longo processo que se estende até os 25 anos, aproximadamente. Dessa forma, o pensamento abstrato vai se formando ao longo desse tempo, de acordo com os respectivos estímulos.

É nesse ponto que os professores de disciplinas abstratas, como matemática, costumam ensinar os conteúdos como se o objetivo fosse exclusivamente decorar uma fórmula e aplicá-la a um conjunto de variáveis para obter um resultado que se encaixe em uma das cinco alternativas disponíveis. O resultado é um desinteresse no aprendizado desses conteúdos e uma robotização na resolução de problemas.

Com a popularização da Inteligência Artificial, a demanda futura por cientistas e analistas de IA será alta, e Inteligência Artificial é formada essencialmente de conceitos estatísticos e probabilísticos, além de cálculos avançados e raciocínio algorítmico. Dessa forma, ter domínio da estatística, da probabilidade e de cálculos avançados será uma hard skill imperativa em futuros empregos que exigem alta especialização desse conhecimento.

E de que forma é possível atender a essa demanda futura senão iniciando a preparação dessas hard skills imediatamente? Mesmo que o raciocínio abstrato das crianças ainda não esteja totalmente desenvolvido, é possível utilizar abordagens lúdicas e concretas para introduzir esses conceitos. Jogos, histórias e atividades práticas que envolvam coleta e análise de dados podem tornar o aprendizado dessas disciplinas mais acessível e interessante, permitindo que elas desenvolvam uma base sólida que facilitará a compreensão de conceitos mais complexos no futuro.

A introdução precoce de estatística e probabilidade é crucial para desenvolver o pensamento crítico e analítico, habilidades fundamentais não só para carreiras específicas, mas também para diversas áreas da vida. Ao confrontar as crianças com problemas reais e ensiná-las a raciocinar probabilisticamente, estamos estimulando-as a tomar decisões informadas e fundamentadas em dados.

Essa abordagem pode mudar a percepção da matemática de uma disciplina teórica para uma ferramenta prática e útil, aumentando o engajamento e o interesse dos alunos. Utilizar metodologias lúdicas e contextos familiares possibilita que mesmo os conceitos mais abstratos sejam compreendidos e aplicados intuitivamente, preparando melhor os estudantes para os desafios acadêmicos e profissionais futuros.

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